Parte 1 - O público-alvo
Considerando esse semi-antigo posicionamento perante as ceroulas, as propagandas de cueca tinham somente um único alvo: as mulheres. Esposas ou mães dos donos da cueca.
Essas sim costuma(va)m ligar: "Onde já se viu, meu homem andar com cueca furada"
E ele pensa: "Ninguém vê, porra, por quê eu preciso usar uma cueca bonita?"
É por isso então, que todos as propaganda de cueca usavam homens gostosos vestindo um cuequinha ridícula e um sorriso maroto. Ou uma cara sensual que só o Latino sabe fazer melhor.
Parte 2 - O conteúdo
Atualmente, as marcas notaram uma mudança nesse contexto cuequístico. Um novo homem, que se importa pelo menos um pouco com o que anda acontecendo na suas partes íntimas. E nem precisa ser metrossexual para se preocupar com o visual underwear. Basta ter anseio por liberdade e por não passar rídiculo em determinadas horas de sua vida. O sexo masculino começa a ser, finalmente,o alvo daquilo que realmente lhe pertence por inteiro, até em um casamento sem separação de bens: suas ceroulas.
Quando as fabricantes se tocaram desse fato, já perceberam que sensualidade não iria colar. Apelo sexual é pra calcinha, sutiã e gostosonas com cara de meretriz. A cueca é muito maior, mais macho, mais intelectual, mais verdadeira. A cueca é digna de um tom de humor. Daqueles que faça o homem virar para o colega, arrotar e comentar: "como somos machos e malandros, não? Vem aqui, me dê um abraço! Nem assim estragaremos nossa masculinadade".
O exemplo que vocês devem estar pensando é exatamente o que eu vou usar. O cantor Daniel (brega) de cueca preta (brega), em uma pose sensual (brega) e com o slogan: Mash que eu gosto (brega e não dirigido para heterossexuais). O próprio cartaz, encontrado em ônibus, o torna mais engraçado. Ficar olhando a cara de imbecil do Daniel é uma atividade sensacional que exige no mínimo uns dois minutos do seu tempo no trânsito. Um homem,olhando aquele anúncio, se sente o mais macho, ao ver que existe gente pior que ele no mundo e mais cara-de-pau, com perdão do trocadilho.
A imagem do Daniel de cuecas não foi encontrada. Após se observar no busdoor, percebeu que não havia no mundo ninguém mais rídículo do que ele e resolveu tirar a pérola de circulação. Como se suas músicas não fossem da mesma categoria da propaganda.
Neste item, vamos para a origem desse post. Outro dia, eu ouvi no rádio o jingle da Zôrba (cujo logo é um passarinho). Escrachadíssimo e ultra mudéérrrrno para o mundo das cuecas. Uma música de strip-tease com o seguinte slogan:
"Zôrba, por que é você quem sabe onde o bicho pega."
UÓtimo. Nunca que um jingle de cuecas me chamaria a atenção, mas conseguiu. Primeiro porque apresentava uma visão machista/engraçada falando que mulher não tem que se intrometer (ai, ai) onde não é chamada e tal.
Mash. Ainda rídiculo, mas menos sensual (que no mundo das cuecas é sinônimo de grotesco) que o Daniel.
Uma abordagem mais carinhosa. Menos infame.
Pega exatamente onde só o homem sabe. Assim como só mulher entende de O.B . Permite ao macho assumir suas cuecas bonitinhas sem se considerar uma frutinha sem munhecas. O homem tem motivos para escolher as suas cuecas SIM, porque tá olhando hein? hein?
Segundo Gabriel Klintowitz, publicitário e usuário casual de cuecas:
" Eu gosto de cuecas bonitas. Mais que a cor, eu vejo o elástico." De resto, todas as cuecas são iguais, mas todo homem tem aquela cueca ESPECIAL."
Ou segundo Paulo Roberto:
"Ai, cueca é tudo igual, meu. Até compro no supermercado. Sempre que eu vou pra Votuporanga, minha mãe me presenteia com cuecas e meias. Mas sempre existe aquela MAIS confortável."
E é exatamente nesse ponto que a Zorba pegou: